Centro-São Paulo-19:20-Santa Ifigênia-08/02

"Chuva fina caindo.

De longe, vejo um grupo de pessoas olhando pra ponte.

O que houve?- perguntei a um guarda.

-Um homem acabou de se enforcar.

De fato, pude ver de longe um corpo pendurado por uma corda na ponte.

E como aquele era o meu caminho, passei por lá e pude ver de perto (e de cima) aquele homem pendurado, enforcado por uma corda.

Não pude deixar de me chocar com a cena, afinal nunca tinha visto uma pessoa enforcada, que tinha acabado de se matar.

O que se passava na cabeça daquele homem, de seus 30 e poucos anos, ao querer tirar sua própria vida?

Será um ato de coragem ou covardia?

Tenho medo de julgar, de fazer qualquer crítica sobre um ato desse tipo.

Pena, talvez.

E percebo o quanto somos egoístas. Sim, egoístas. Eu, vc, todo mundo.

Qto tempo perdemos perguntando ao nosso próximo se ele está bem, se está precisando de ajuda?

Qto tempo perdemos olhando nos olhos das pessoas e oferecemos nossos ombros pra alguém chorar?

Nenhum.

Estamos sempre preocupados conosco, com nossos problemas, com nossas vidinhas.

E com o tempo, nosso coração vai endurecendo, vai esfriando, como uma geladeira.

E se esse homem tivesse alguém pra desabafar?

Será que ele cometeria tal ato?

Será que ele tiraria a sua própria vida?

Tantas perguntas que eu fiz em menos de 5 minutos, observando aquele corpo que jazia.

Orei.

Pedí à Deus que perdoasse aquele irmão e que iluminasse o caminho dele em qualquer lugar que fosse.

E enquanto, eu voltava pra casa, com aquela cena na mente, chorei.

Sob a chuva fina, chorei sozinha e sem vergonha das pessoas que passavam ao meu lado, pois sabia que elas não me viam, assim como não viram o desespero nos olhos daquele homem antes dele se jogar daquela ponte".